Racismo Subcutâneo
O Arrastão Fantasma
https://www.youtube.com/watch?v=O-0UFPJi5tA
domingo, 9 de junho de 2019
O Arrastão Fantasma
Faz hoje catorze anos, foi em 10
de junho de 2005, todos os telejornais abriam com a notícia de um arrastão.
Todos os órgãos de comunicação social mais sérios ou menos sérios, faziam eco e
mostravam fotografias dos acontecimentos, com grande detalhe, mesmo sabendo-se
que, na altura o uso da câmara fotográfica não era tão generalizado como
atualmente.
Num dos telejornais, o
Subcomissário da PSP Gonçalves Pereira testemunhava, em direto da praia, um
acontecimento com centenas de indivíduos, que tinha o tinha obrigado a pedir um
reforço policial, classificando a situação como “muito complicada”.
Começou-se a falar de 20 ou 30
pessoas e a bola de neve foi crescendo, a SiC, já falava a dada altura em 500
pessoas de raça negra. Todos os órgãos televisivos mostravam um mesmo individuo
a testemunhar várias versões dos acontecimentos, cada vez mais dramáticas e na
última, já ele dizia que, tinha havido tiros para dar início ao falso arrastão.
Alguns dias depois o país caía na
real e afinal não tinha havido arrastão nenhum, mas, o mal já estava feito, a
falsa noticia tinha no entanto servido para colar um rótulo negativo em todos
os jovens negros, que apenas tinham aproveitado o dia 10 de junho e o fim das
aulas escolares, para ir até à praia de Carcavelos conviver e divertirem-se.
Afinal as fotos de ladrões a atacar, eram
apenas fotos de banhistas a carregar os próprios pertences.
Este episódio, serviu também,
para e esquecer um episódio de delinquência e de crime que ocorreu 10 anos
antes, quando um grupo de fascistas assassinou, de forma cobarde e a pontapés
um outro miúdo de origem africana (Alcindo Monteiro), que, tinha ele também vindo
ao Bairro Alto divertir-se e que teve o azar de encontrar os nazis e a morte,
ao voltar para casa.
O arrastão serviu a quase toda a
gente: deu origem a reforços de policiamento em todas as praias, com mais horas
pagas para os agentes, representou mais vendas de jornais e deu tema para
reportagens, debates e análises para os órgãos noticiosos, durante vários dias.
Serviu para a extrema direita legitimar a sua manifestação e o seu discurso de
ódio e ganhar espaço mediático. Serviu a todos, a todos menos aos jovens negros,
que sairiam ainda mais estigmatizados e mais sujeitos ao preconceito, ao escrutínio
policial e à desconfiança, depois daquele infeliz episódio de fake news, uma
fake news muito precoce e que aconteceu muito antes da expressão se ter
banalizado.
Decorridos 14 anos, aquilo que se
nota hoje é que ainda há pessoas que pensam que existiu arrastão e que falam dele
como se se tratasse de um facto real, há ainda, quem diga que aconteceu e que
estava lá.
O tema não é e não foi suficiente
debatido e seria muito interessante, juntar as pessoas envolvidas para
percebermos quem é o homem que dá testemunho à falsa notícia de arrastão e que
foi ouvido por todas as televisões? Como é que toda a média embarca na tese de
arrastão sem confirmar fontes? Como é que há responsáveis policiais as dar
testemunho a algo que nunca aconteceu? Que números de horas de trabalho extra é
que resultaram para a polícia em função desta notícia?
Um dia saberemos tudo isto, mas,
para os crédulos, fica a recomendação para que pesquizem, para poderem ter a
certeza de que o arrastão nunca existiu, para ajudarem a repor a verdade.
https://www.youtube.com/watch?v=gCZ1KmlqgqU&t=1s
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